Sua Anatomia Causa Apneia do Sono?

Como especialista em Odontologia do Sono, quero conversar sobre um aspecto fundamental da apneia obstrutiva do sono que muitas pessoas desconhecem: a anatomia. Muitas vezes, o ronco alto e as pausas respiratórias noturnas não são apenas um “mau hábito”, mas sim o resultado de características físicas específicas da sua face e garganta. Entender como a sua própria estrutura pode estar contribuindo para o problema é o primeiro passo para encontrar a solução certa.

Entendendo a Apneia Obstrutiva do Sono: Um Problema Físico

A apneia obstrutiva do sono (SAOS) ocorre quando há um estreitamento ou colapso completo das vias aéreas superiores durante o sono. Pense na sua garganta como um tubo flexível. Durante o dia, seus músculos a mantêm aberta. À noite, com o relaxamento natural do sono, esse tubo fica mais suscetível a fechar, especialmente se já existe uma predisposição anatômica que diminui o espaço para a passagem do ar.

Principais Alterações Anatômicas que Favorecem a Apneia

Diversas características craniofaciais e dos tecidos moles podem criar o cenário perfeito para a apneia. Como dentista do sono, meu trabalho é identificar essas variações que muitas vezes passam despercebidas em uma consulta médica geral. As mais comuns são a posição da mandíbula e o tamanho das amígdalas e adenoides.

Mandíbula Retraída (Retrognatismo): Menos Espaço para o Ar

Uma das causas mais comuns de apneia em adultos é a mandíbula retrognata, ou seja, posicionada mais para trás em relação à maxila. Quando isso acontece, o espaço atrás da língua (espaço aéreo retrolingual) fica naturalmente reduzido. Durante o sono, com o relaxamento muscular, a língua tende a se deslocar para trás, bloqueando ainda mais a passagem de ar. Pacientes com essa característica, que chamamos de má oclusão de Classe II, são fortes candidatos a desenvolver distúrbios respiratórios do sono.

Hipertrofia de Amígdalas e Adenoides: Barreiras na Passagem do Ar

Imagem de uma amigdalectomia: remoção das amigdalas, aumentando o volume da via aérea.

Em crianças, a causa número um da apneia obstrutiva do sono é a hipertrofia (aumento) das amígdalas (tonsilas palatinas) e da adenoide (tonsila faríngea). Essas estruturas de tecido linfoide, quando muito grandes, funcionam como barreiras físicas que bloqueiam o fluxo de ar, principalmente quando a criança está deitada. Frequentemente, a remoção cirúrgica (adenoamigdalectomia) é o tratamento de escolha e pode resolver completamente o problema nessa faixa etária.

 

 

Outros Fatores: Palato, Língua e Vias Aéreas

Além dos fatores principais, outras características podem contribuir para o estreitamento das vias aéreas. Um palato duro estreito e profundo (“ogival”) pode diminuir o espaço na cavidade nasal e oral. Uma língua muito volumosa (macroglossia) ou um palato mole longo e espesso também ocupam um espaço precioso na garganta, facilitando o colapso noturno.

O Papel do Dentista do Sono no Diagnóstico e Tratamento

Identificar essas alterações anatômicas é crucial para um tratamento eficaz. O dentista do sono, bem como o fonoaudiólogo do sono, são os profissionais capacitados para realizar um exame físico detalhado da face, boca e vias aéreas, reconhecendo fatores de risco como o retrognatismo e a atresia de maxila. Embora o diagnóstico final da apneia exija um exame de polissonografia, nossa avaliação é fundamental para direcionar a terapia.

Para muitos adultos o tratamento com aparelhos intraorais, que reposicionam a mandíbula para a frente durante o sono, é uma solução altamente eficaz, pois atua diretamente na causa anatômica do problema. Já nas crianças, a abordagem precoce de alterações no crescimento facial pode prevenir a apneia na vida adulta.

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