Aquele chiado constante, um apito ou um som de “cachoeira” no ouvido que não vai embora. O zumbido é um sintoma incrivelmente frustrante. Muitas pessoas passam por diversos especialistas, como otorrinolaringologistas e neurologistas, sem encontrar uma causa clara. Mas e se eu te dissesse que a culpa pode estar, na verdade, na sua mandíbula? Sim, a Disfunção Temporomandibular (DTM) é uma das causas mais comuns e frequentemente ignoradas de zumbido.
O que é DTM e qual a sua Relação com o Zumbido?
Pode parecer uma conexão estranha, mas ela é real e clinicamente documentada. A DTM é um termo que agrupa diversos problemas que afetam a sua articulação temporomandibular (ATM) e os músculos que usamos para mastigar. Nos livros e artigos científicos sobre o tema e na prática clínica, o zumbido é listado como um dos “sinais e sintomas mais comuns” da DTM , aparecendo junto com estalos ao abrir a boca , dores de cabeça e dor na face.
Por que a Mandíbula Afeta o Ouvido?
A explicação está na anatomia. As estruturas da sua mandíbula e do seu ouvido são “vizinhas”, muito próximas. Os músculos que usamos para mastigar (como o masseter e o temporal) e os ligamentos da ATM estão localizados muito próximos às estruturas do ouvido. Mais importante: os nervos que servem a região da mandíbula (como o nervo trigêmeo) compartilham caminhos e conexões no tronco cerebral com os nervos da audição. Uma sobrecarga ou “curto-circuito” em um pode ser facilmente interpretado pelo cérebro como um sinal no outro.
O Nervo Auriculotemporal — um dos principais responsáveis por DTM de origem neural é também um dos mais negligenciados nas abordagens clínicas tradicionais. Esse nervo é ramo do nervo trigêmeo e passa atrás da articulação temporomandibular.

Seu trajeto delicado o torna vulnerável à compressão mecânica por deslocamentos do côndilo mandibular, cicatrizes fasciais pós-trauma; hipertonia do masseter profundo ou lateral e disfunções da ATM que aumentam a pressão intra-articular.
Estes problemas podem levar a dor referida na têmpora, ouvido, parte lateral do rosto e a disfunções como o zumbido e a sensação de pressão auricular, confundindo o diagnóstico. Muitos profissionais tratam o músculo, a oclusão dental, a musculatura cervical e a dor continua!
Nestes casos, o caminho é a visão integrativa do sistema mandibular, neural e miofascial. A atuação multiprofissional entre fisioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos e terapeutas manuais é essencial para descomprimir o trajeto do auriculotemporal, modular a dor e eliminar a dor da DTM de base neurogênica.
O Papel Chave da Tensão Muscular (Dor Miofascial)
Muitas vezes, o zumbido não vem da articulação em si, mas sim de um tipo específico de DTM: a dor miofascial. Nesses casos, os músculos da mastigação e do pescoço desenvolvem “pontos-gatilho” (nódulos de tensão palpáveis).
Quando esses pontos estão ativos, eles não causam dor apenas no local; eles são famosos por “referir” sintomas para outras áreas. O zumbido, a dor de dente (sem causa dental) e a dor de cabeça são sintomas referidos clássicos desse quadro.
Como saber se o seu Zumbido é causado pela DTM?
Se você sofre com zumbido, o primeiro passo é sempre procurar um médico otorrinolaringologista para descartar causas auditivas. Se ele avaliar seus exames e disser que sua audição está normal, a DTM se torna a principal suspeita. Responda a estas perguntas:
- Você também sente cansaço ou dor nos músculos do rosto, especialmente ao acordar?
- Sua mandíbula estala, trava ou tem movimentos limitados?
- Você tem dores de cabeça frequentes na região das têmporas?
- Você sente dor no pescoço e ombros?
- Você percebe que aperta os dentes durante o dia (bruxismo de vigília)?
Se você respondeu “sim” a 2 ou 3 dessas perguntas, há uma chance de o seu zumbido ser, na verdade, um sintoma da sua DTM.
O Tratamento da DTM pode aliviar o Zumbido?
Em muitos casos, sim. Quando o zumbido tem essa origem (chamado de zumbido somatossensorial), o tratamento foca em “desarmar” a causa na mandíbula. O objetivo é reduzir a sobrecarga nos músculos e na articulação, acalmando o sistema nervoso.
O tratamento moderno da DTM é conservador, ou seja, não é invasivo. As terapias mais eficazes incluem fisioterapia especializada (para liberar os pontos-gatilho) , o uso de placas oclusais (para proteger os dentes e alterar os estímulos proprioceptivos) , e o controle de hábitos como o apertamento dental diurno.
Ao tratar a DTM, muitos pacientes relatam uma melhora significativa ou até o desaparecimento completo do zumbido.



