É uma das perguntas mais comuns no consultório: “Doutor, meu pai range os dentes, e eu também. O bruxismo é genético?” Se você se identifica com essa situação, saiba que sua observação faz sentido. A resposta curta é: sim, o bruxismo pode ter, entre suas várias causas, um componente genético. Mas para entender como isso funciona, precisamos primeiro diferenciar os tipos de bruxismo.
O bruxismo é definido como uma atividade repetitiva dos músculos da mastigação, que pode incluir apertar, encostar ou ranger os dentes. Ele não é considerado uma doença, mas sim um hábito ou comportamento que é um fator de risco para problemas como desgastes dentais ou DTM (Disfunção Temporomandibular).
Bruxismo Primário vs. Bruxismo Secundário
Para falar de genética, precisamos dividir o bruxismo em duas categorias principais:
- Bruxismo Primário (ou Idiopático): É aquele que não tem uma causa médica óbvia ou identificável. É aqui que a genética parece desempenhar um papel mais direto.
- Bruxismo Secundário: Este tipo é um sintoma ou consequência de outra condição. Isso pode incluir o uso de certos medicamentos, distúrbios do sono, distúrbios neurológicos ou, como veremos, síndromes genéticas específicas.
O Papel da Genética no Bruxismo Primário
Quando falamos que o bruxismo “vem de família”, geralmente estamos nos referindo ao bruxismo primário. As pesquisas científicas que buscam a origem dessa atividade no Sistema Nervoso Central (SNC) levantam hipóteses que incluem um “fator genético envolvido”.
Essa predisposição genética é um fator de risco conhecido, especialmente no bruxismo do sono em crianças. Portanto, se seus pais ou irmãos têm o hábito de ranger os dentes, suas chances de também desenvolver esse comportamento são, de fato, maiores.
E as Síndromes Genéticas? (Bruxismo Secundário)
Aqui a genética entra de outra forma. No bruxismo secundário, o apertamento dental não é apenas uma predisposição, mas um sintoma associado a uma síndrome genética já diagnosticada.
Condições como Síndrome de Down, Doença de Parkinson ou Doença de Batten, por exemplo, frequentemente apresentam o bruxismo como uma de suas manifestações clínicas. Nesses casos, o bruxismo é tratado como parte do quadro geral da síndrome.
Genética não é o Único Fator
É fundamental entender que, mesmo havendo um fator genético, o bruxismo raramente tem uma única causa. No bruxismo secundário, por exemplo, o uso de medicamentos (como alguns antidepressivos ISRS) ou o consumo de substâncias estimulantes (como cafeína e álcool) são fatores de risco conhecidos.
Além disso, fatores psicossociais como estresse e ansiedade são gatilhos muito comuns, especialmente para o bruxismo em vigília (aquele que acontece durante o dia). O bruxismo do sono também pode ser um fator de proteção para outras condições, como a apneia do sono ou o refluxo gastroesofágico.
O que fazer?
Identificar a possível origem do seu bruxismo é o primeiro passo para o controle eficaz. Se você suspeita que seu bruxismo é genético, uma avaliação profissional é essencial.
O mais importante não é o diagnóstico do bruxismo em si, mas sim o seu controle, protegendo seus dentes, músculos e articulações das consequências desse hábito.



