Apneia do Sono e Coração: Entenda os Riscos Cardiovasculares

Apneia do Sono: Mais Que um Ronco Alto

Muitas pessoas associam a apneia do sono apenas ao ronco alto e interrupções na respiração durante a noite. Como dentista especialista em Odontologia do Sono, posso afirmar que a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é muito mais complexa.

A apnéia do sono caracteriza-se por episódios repetidos de obstrução parcial ou total das vias aéreas superiores enquanto dormimos. Essas pausas respiratórias podem durar segundos ou até minutos e ocorrer dezenas ou centenas de vezes por noite. O problema é que essa condição, muitas vezes subdiagnosticada , representa um risco significativo para a saúde do coração.

O Coração Sob Pressão: Consequências Cardiovasculares da Apneia

A apneia do sono não é apenas um incômodo noturno; é um fator de risco independente para diversas doenças cardiovasculares. Estudos mostram uma forte associação entre SAOS e:

  •  Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): A prevalência de HAS em quem tem apneia é alta, e vice-versa. A apneia pode dificultar o controle da pressão arterial.
  •  Doença Arterial Coronariana (DAC): A SAOS pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de problemas nas artérias do coração.
  •  Arritmias Cardíacas: Alterações no ritmo cardíaco, especialmente a fibrilação atrial (FA), são mais comuns em pacientes com apneia.
  •  Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC): A apneia pode tanto favorecer o desenvolvimento quanto agravar a ICC.
  •  Acidente Vascular Cerebral (AVE): Existe uma alta prevalência de distúrbios respiratórios do sono em pessoas que sofreram um AVE.

Além disso, a SAOS está associada a um aumento na taxa de mortalidade por causas cardiovasculares.

Como a Apneia Afeta o Sistema Cardiovascular?

Mas como exatamente as pausas respiratórias noturnas prejudicam o coração? Existem alguns mecanismos principais:

Quedas Repetidas de Oxigênio (Hipóxia Intermitente)

Cada vez que a respiração para, os níveis de oxigênio no sangue caem (hipóxia). Em resposta, o corpo ativa o sistema nervoso simpático (resposta de “luta ou fuga”), causando vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos), aumento da frequência cardíaca e elevação da pressão arterial. Essa hipóxia repetida também gera estresse oxidativo, com formação de radicais livres prejudiciais.

Esforço Respiratório e Pressão Negativa

O esforço para respirar contra uma via aérea bloqueada cria uma pressão negativa acentuada dentro do tórax. Isso aumenta a carga de trabalho do coração e pode afetar seu funcionamento a longo prazo.

Despertares Frequentes e Fragmentação do Sono

As pausas respiratórias geralmente terminam com um microdespertar, necessário para reabrir a via aérea. Esses despertares constantes fragmentam o sono e também ativam o sistema nervoso simpático, elevando a pressão arterial e a frequência cardíaca, efeitos que podem persistir durante o dia.

Não Ignore os Sinais: A Importância do Diagnóstico e Tratamento

Ronco alto e frequente, pausas respiratórias observadas por outra pessoa, sonolência excessiva durante o dia, sensação de sono não reparador, dores de cabeça matinais e dificuldade de concentração são sinais que não devem ser ignorados.

A Apnéia Obstrutiva do Sono é uma condição tratável. Terapias como o CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) e os aparelhos intraorais (AIO) , que ajudam a manter a via aérea aberta durante o sono, podem controlar a apneia e reduzir significativamente os riscos cardiovasculares associados.

Se você suspeita que pode ter apneia do sono, converse com seu médico ou procure um especialista em sono. O diagnóstico correto, geralmente feito através da polissonografia, é o primeiro passo para proteger sua saúde cardiovascular e melhorar sua qualidade de vida. Cuidar do seu sono é cuidar do seu coração.

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